Muitos brasileiros já podem dizer que são investidores, mesmo que de certa forma, a grande maioria possua uma visão mais simplista com relação a investimentos e ao mercado financeiro em geral.
Segundo dados da Anbima divulgados em 2019, o brasileiro ainda tem um longo caminho pela frente quando o assunto é investir, visto que a opção mais escolhida pelos brasileiros ainda é a caderneta de poupança:
https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2019.htm
Mas o que de fato impede o brasileiro de investir de forma mais ampla e estruturada no mercado financeiro?
É intrigante saber que, por mais que exista tanta informação disponível de forma acessível para a grande maioria das pessoas, é notável que a escolha por um investimento adequado ainda é uma questão obscura para a grande parte das pessoas.
Fazendo uma rápida simulação, se um investidor deixou seu dinheiro alocado na poupança ao longo de todo o ano de 2019, ele teve os seguintes resultados:
- Valor Investido: R$ 10.000,00
- Rendimento Poupança 2019: 4,34% a.a (considerando a nova regra de 70% da SELIC a níveis inferiores a 8,5% a.a + TR)
- Inflação Acumulada 2019: 4,31% a.a
- Lucro Bruto (sem descontar a inflação): R$ 10.434,00
- Lucro Líquido (descontando a inflação): R$ 10.003,00
Em resumo, o investidor deixou seu dinheiro aplicado por 12 meses e teve um lucro de R$ 3,00
Mediante a isso, qual a razão que faz o investidor optar pela poupança do que outros produtos de investimentos?
Logo após a criação do plano real, podemos dizer que o Brasil viveu alguns anos de grande prosperidade no que diz respeito ao rendimento da poupança, visto que com riscos baixíssimos o investidor poderia auferir ganhos na faixa de 1,0% a.m ou mais, onde criou-se a conhecida frase de que o Brasil era a “terra dos marajás”.
Do ano de 1995 até o ano de 1998, o investidor que possuía suas aplicações na poupança, viu seu dinheiro se multiplicar uma média de 12,05% a.a, ou seja, o famoso “1% ao mês”.
Portanto podemos dizer que essa opção de investimento do brasileiro carrega consigo uma questão histórica, uma crença de que talvez ainda seja uma boa opção de investimento.
Contudo, a verdade é que essa realidade não existe mais. O Brasil vem apresentando indicadores econômicos que demonstram a aceleração da atividade e expansão do mercado em geral, ou seja, o cenário implica que o dinheiro esteja em circulação, e não alocado na caderneta de poupança. O cenário de juros baixos que vivemos (SELIC a 4,5% a.a com perspectivas de mais um corte para 4,25% a.a) é o cenário de menor juros da história e faz com que o nível de recursos circulando na economia seja intensificado, favorecendo as atividades empresariais e consequentemente outros setores do mercado, dando espaço para empresas listadas na bolsa de valores, por exemplo, tomarem lugar de destaque como uma opção atrativa de investimentos no momento.
A projeção para 2020 é que os rendimentos da poupança fiquem abaixo da própria inflação, implicando em perda no poder de compra do investidor que mantiver seus recursos alocados em poupança durante o ano.
Mas ainda com todo esse cenário, qual o motivo que leva existir um saldo de mais de R$ 830 bilhões de reais alocados em caderneta de poupança?
Um outro fator que poderia explicar essa questão, é o fato de não ser exagero dizer que o setor financeiro no Brasil ainda vive um monopólio, controlado por grandes bancos que muitas vezes defendem seus interesses acima dos interesses dos clientes/investidores, ofertando a poupança como um produto de investimento de prateleira. Quando muito, o gerente de banco poderá ainda ofertar um fundo de investimento, que cobrará taxas elevadíssimas de administração, performance e outros, corroendo também a rentabilidade final do investidor.
O fato acima pode ser comprovado pela pesquisa abaixo:
https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2019.htm
Portanto, o investidor no Brasil é aquele sujeito que enfrenta diversas barreiras, tanto culturais, quanto “sistêmicas”, e para que esse cenário mude, é necessário uma mudança de crença juntamente com uma mudança estrutural no mercado financeiro. Podemos afirmar que essa transformação está em andamento, mesmo que timidamente.
Um exemplo disso é o nascimento e crescimento dos bancos digitais, que ultimamente vem ganhando seu lugar ao sol dentro do sistema financeiro nacional, através da oferta de contas bancárias sem cobranças de tarifas, oferecendo praticidade, acessibilidade e economia para o cliente.
Podemos citar também o aumento progressivo do número de investidores que se cadastraram na bolsa de valores ao longo do ano de 2019, atingindo a marca de 1,5 milhão de pessoas. De qualquer forma, é um número com pouca expressão, se considerarmos que vivemos num país com mais de 200 milhões de habitantes.
Há um longo caminho pela frente, porém a mudança é visível, está ocorrendo de baixo de nossos olhos, quem quiser enxergar e não perder o timming é certo de que poderá colher bons frutos no futuro, afinal, quem chega primeiro bebe água limpa!